quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ARQUITETO RAFAEL MONEO

Pra quem ainda não conhece este livro do Rafael Moneo, vale a pena ler!!! O arquiteto espanhol faz uma reflexão crítica sobre a trajetória de oito arquitetos protagonistas do cenário internacional contemporâneo, descrevendo projetos em profundidade, com ampla seleção de fotografias das obras, maquetes e desenhos. Fica a Dica!!! Aqui vai uma entrevista dele para a Folha de SP: 


ARQUITETO RAFAEL MONEO
INQUIETAÇÃO TEÓRICA E ESTRATÉGIA PROJETUAL
NA OBRA DE OITO ARQUITETOS
 
FOLHA DE S. PAULO 09/02/2009
A arquitetura pode ser poesia, caso seja feita por Álvaro Siza em projetos mais inspirados. A arquitetura também pode ser cinema, quando Rem Koolhaas se debruça sobre uma cidade como Nova York.
Esse elogio da arquitetura como arte é defendido de modo enfático pelo espanhol Rafael Moneo, 71, ganhador do Pritzker em 1996 --uma espécie de Nobel da área-- e prestigiado crítico. Uma reunião de ensaios a respeito de oito arquitetos-chave da cena contemporânea chega ao Brasil. "Inquietação Teórica e Estratégia Projetual" é lançado pela Cosac Naify e consiste em uma compilação de ensaios de Moneo quando deu aulas na Universidade Harvard, nos EUA, e ministrou conferências no Círculo de Belas Artes de Madri, nos anos 90.
Moneo tem projetos de destaque em arquitetura, como a ampliação do Museu do Prado, de 2007, e a estação de trem Atocha (1985-88), ambos em Madri. Nos anos 60, trabalhou com o dinamarquês Jorn Utzon (1918-2008), autor da Ópera de Sydney e que levou o Pritzker em 2003.
Na entrevista à Folha, Moneo descreve como chegou aos oito nomes estudados em seu livro e sugere uma revisão com alguns novos profissionais, como a japonesa Kazuyo Sejima, do escritório Sanaa. Também defende uma "atitude teórica" dos arquitetos, diz que admira a obra dos brasileiros Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha e enfatiza que a arquitetura é uma experiência física. A seguir, trechos da entrevista.
Folha - "Inquietação Teórica e Estratégia Projetual" foi escrito nos anos 90. Como selecionou os oito arquitetos que são tema dos ensaios? Hoje, acrescentaria outro nome?
Rafael Moneo - Sempre pensei que os arquitetos de quem teria de falar com os estudantes eram aqueles que mais influência tinham nas universidades. Sou consciente de que na seleção ficaram de fora arquitetos importantes, cuja presença nas escolas era menor. Assim, o livro não fala de I.M. Pei [autor da pirâmide de vidro no Museu do Louvre], Richard Meier [arquiteto norte-americano], Renzo Piano [arquiteto italiano, autor do projeto do Centro Pompidou, em Paris], Norman Foster [arquiteto britânico] e Tadao Ando [arquiteto japonês], apenas para citar alguns.
Mas na escolha também há critérios de afinidade. Quase todos os arquitetos de quem falo se preocuparam com a prática profissional, mas também em elaborar uma atitude teórica que permitisse fundamentar seus projetos. Quanto a algum nome que gostaria de incluir em uma nova edição, me interessa muito o trabalho de Kazuyo Sejima, do Sanaa [escritório que vai fazer filial do Louvre, em Lens], e de Steven Holl [arquiteto norte-americano].
Folha - Quando você aborda a obra de Robert Venturi e de Rem Koolhaas, não existe uma possível aproximação entre as duas trajetórias? Ambos escreveram livros, quase manifestos, nos quais defendem uma arquitetura mais próxima da cultura de massa.
Moneo- Sem dúvida, Venturi e Koolhaas entendem que o autêntico racionalismo não está na arquitetura acadêmica e sim na arquitetura anônima, seja da "main street" em Venturi ou nos arranha-céus de Nova York de Koolhaas. Apesar de ambas as visões serem de intelectuais, eles rechaçam o profissionalismo acadêmico que, no entanto, os relaciona. Esse enfrentamento contra o que consideram o "establishment" condicionou suas carreiras, nem sempre de modo benéfico.
Folha - Em seu livro, você relaciona de um modo muito interessante os projetos de Álvaro Siza com a produção poética de Fernando Pessoa. Para você, Siza é um poeta na arquitetura? E qual a relação de Siza com as produções mais populares e locais?
Moneo - Na obra de Siza, se dá o encontro entre o profundo conhecimento de arquitetura e a vontade de capturar o conhecimento. É algo que o leva a valorizar o singular, o instante, o momento preciso em que a realidade nos faz presente. E isso acontece no cotidiano. Siza está instalado na própria vida, mas, ao mesmo tempo, quer manter intacto e incólume seu "eu" poético, sem se misturar com o mundo banal que o rodeia. Não há populismo na obra de Siza. Ainda não conheço a Fundação Iberê Camargo [em Porto Alegre], mas as imagens que vi dela me fazem pensar que é uma de suas melhores obras.
Folha - O que você conhece da arquitetura brasileira?
Moneo - Desgraçadamente não conheço o Brasil. Espero viajar para aí algum dia. Falar de arquitetura sem conseguir visitá-la é sempre difícil. Mas penso que a arquitetura sempre está ligada à experiência física da mesma. Estamos acostumados a opinar sobre arquitetura apenas com um conhecimento baseado em imagens.
No entanto, devo dizer que sempre fiquei admirado com a coragem refletida tanto na arquitetura de Oscar Niemeyer quanto na de Paulo Mendes da Rocha, coragem que seguramente é um reflexo da cultura e da vida em um país como o Brasil. Com segurança, o concreto que é usado aí tem um sentido diferente do que é empregado na Europa. Muito me impressiona ver a desenvoltura com que ele é trabalhado por esses arquitetos brasileiros.
Folha - Como você vê o projeto de ampliação do Museu do Prado, de sua autoria e considerado sua obra mais importante?
Moneo - Se a ampliação do Museu do Prado tem algum interesse, certamente é que as soluções canônicas, feitas em museus como o Louvre, a National Gallery e o British Museum, não foram feitas. Foi levada em conta a peculiaridade do museu madrileno. Não houve um desvirtuamento da escala e do caráter do Prado antigo.
Vejo a intervenção no Prado como uma operação simbiótica, em que as novas construções aderem à antiga sem mudar seu caráter. Ver como o público utiliza o velho e o novo edifício, sempre com naturalidade, e ver que o impacto da ampliação na malha urbana é positivo, essas duas coisas são minhas maiores satisfações com esse projeto, depois de tanta polêmica que provocou.

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